Acho que não poderia começar melhor o blog do que surrupiando uma poesia do João Cabral de Melo Neto. Detratores e defensores da globalização, assim como o próprio João, não poderiam imaginar que o poder de disseminação da luta e da esperança chegasse a este ponto. O grito, outrora calado, chegou longe. Se fosse escrever as nacionalidades que despertaram nas Primaveras e Verões, a lista iria longe. Cada qual a seu modo, cada grito, uma luta. Em Estados despóticos, democracia; em supostas democracias liberais, o seu desmascaramento.
Os galos brasileiros, contudo, estão sonolentos. Ou talvez, depois de tantas bordoadas (1695, 1721, 1789, 1798, 1837, 1898, 1935, 1964), estejam roucos. Não é difícil de encontrar, em gritos estrangeiros, parte de nossas reivindicações. Concentração de terra, desigualdade, democracia capenga e povo analfabeto. Como foi possível que tenhamos nos iludido com falsas riquezas de soja e carne, que só agravam o nosso arcaísmo como nação? Quando faremos uma revolução por igualdade, terra e livro?
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
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